Quantos livros escritos por mulheres têm na sua estante? A literatura de autoria feminina é essencial para a construção de identidade e tem poder de nos permitir mergulhar em histórias que narram diferentes vivências e que trazem reflexões necessárias sobre a nossa realidade.
De violência doméstica à maternidade, as obras produzidas por mulheres abordam uma série de temáticas que, por muitos anos, não receberam destaque, mas, hoje, cada vez mais são pautas fundamentais e que ganham espaço em veículos de comunicação, entretenimento e conversas do nosso dia a dia.
Por isso, separamos 11 dicas de leituras que você precisa conferir este ano. Vamos lá?
1. A cor púrpura (Alice Walker)
Considerada fundamental para as literaturas negra norte-americana e de autoria feminina, “A cor púrpura” é necessária e impactante, especialmente por ser uma obra que entrelaça assuntos tão importantes — como racismo, violência doméstica e sexual, relacionamentos LGBTQIA+ — em uma única história.
A narrativa acontece, por inteiro, em formato de cartas escritas por Celie, a personagem principal, para Deus e para a irmã. Dessa forma tão íntima, podemos entrar dentro de dores, traumas e medos vividos por ela, uma mulher negra, pobre e vítima de diferentes tipos de violência.
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Enquanto Celie vive uma jornada de autoconhecimento e de resistência em um mundo de tantas opressões, a irmã Nettie passa também por um momento de reconhecimento, enquanto é missionária na África e vivencia novas experiências, especialmente relacionadas a questões culturais e religiosas.
Vencedor do prêmio Pulitzer de 1983, esse é um título envolvente e recheado de reflexões sobre a relação entre homens e mulheres.
Alice Walker é uma das escritoras que marcaram a história. Imagem: reprodução/Amazon
2. A cachorra (Pilar Quintana)
Se você prefere leituras mais rápidas, a nossa dica é “A cachorra”. Apesar de curta, a obra não deixa de lado a intensidade e traz o leitor para uma realidade dura e repleta de tragédias, vivenciada pela personagem principal Damares, que carrega a dor de nunca ter conseguido realizar o sonho da maternidade.
Para suprir essa frustração, Damares resolve adotar uma cachorrinha, que recebe o nome da filha que gostaria de ter — e também todas as expectativas de ter uma criança e de ser mãe.
Uma leitura bastante impactante, com passagens marcadas pela violência — que vem de todas as partes, inclusive da própria natureza — e por sentimentos complexos, o que torna a obra bastante mergulhada no psicológico de quem vivencia diversos traumas ao longo da vida.
Realista e forte, “A cachorra” chegou a ser considerado o livro do ano de 2020.
“A cachorra” é uma obra rápida, mas muito tocante. Imagem: reprodução/Amazon
3. Quarto de despejo (Carolina Maria de Jesus)
A terceira dica de livros escritos por mulheres é uma obra brasileira, de Carolina Maria de Jesus. Ao contrário das outras indicações, esta é uma trama 100% verídica, com os diários da autora escritos ao longo de cinco anos.
Carolina Maria de Jesus foi uma coletora de recicláveis em São Paulo, moradora da então favela do Canindé (atual Marginal do Tietê) e mãe solo de três crianças, que encontrava na escrita um refúgio para desabafar sobre a pobreza e a fome.
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Esta também é uma obra de leitura rápida, mas, ao mesmo tempo, muito dolorosa. Apesar de ter sido escrita na década de 1950, até hoje, é um livro atual e que nos leva para uma realidade ainda enfrentada por muitos brasileiros: a da fome.
“Quarto de despejo”, além de ter transformado a vida de Carolina, é um retrato da pobreza dentro da cidade e também sobre a gritante desigualdade de espaços urbanos.
Dar espaço para livros de escritoras negras é essencial para visibilizar a mulher negra. Imagem: reprodução/Amazon
4. O conto da aia (Margaret Atwood)
Se você é fã de distopias, é muito provável que adore conhecer “O conto da aia”. Além do livro, a história inspirou a série homônima, premiada com o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática, em 2018.
A trama acontece nos Estados Unidos, em um momento onde a infertilidade é cada vez mais comum e o nascimento de bebês saudáveis é raro. Diante disso, é imposto um estado autoritário, que bane qualquer tipo de entretenimento, os direitos das mulheres, universidades e outras formas de pensamento.
O então território passa a ser chamado Gilead, e é um cenário repleto de opressões, especialmente com mulheres, que são divididas em categorias e devem apenas cumprir esses papéis.
Entre elas estão as Aias, mulheres que são propriedades do Estado e utilizadas apenas com o objetivo de procriação. June, a personagem principal, faz parte desse grupo.
A trajetória de June é marcada pelo desejo de reencontrar a filha roubada, Hannah, e, juntas, conseguirem fugir para o Canadá.
Apesar de ser uma distopia, ou seja, uma realidade extremamente cheia de opressões, existem diversas passagens que se assemelham às situações ainda existentes na nossa sociedade, o que faz do livro uma ótima fonte para refletir sobre direitos, liberdade, desigualdade de gênero e relações de poder.
Margaret Atwood é uma autora importante para a literatura feminista. Imagem: reprodução/Amazon
5. Garota, mulher, outras (Bernardine Evaristo)
Se você deseja uma leitura bastante atual, a dica é “Garota, mulher, outras”, escrito em 2019. Toda a trama acontece no Reino Unido, durante o processo de saída do país da União Europeia, o Brexit.
Cada capítulo da história é sobre uma personagem e que, de alguma forma, estão conectadas.
Apesar de ser uma obra fictícia, a autora Bernardine Evaristo é capaz de tornar todas as histórias extremamente reais e de atribuir a cada personagem situações presentes no cotidiano de todas nós, como relacionamentos abusivos, feminismo, traições, maternidade, racismo, imigração etc.
Outro ponto que chama a atenção para este livro é que ele foge totalmente dos estilos tradicionais de escrita e aposta em um híbrido entre prosa e poesia — o que faz esse enredo ainda mais marcante e sensível.
“Garota, mulher, outras” é uma daquelas obras viciantes e difíceis de largar após começar a leitura.
Mais uma sugestão de livro escrito por autoras negras, “Garota, mulher, outras” é uma leitura envolvente. Imagem: reprodução/Amazon
6. Frankenstein (Mary Shelley)
Provavelmente, você já deve ter ouvido falar sobre a história de Frankenstein, um estudante de medicina que criou uma criatura assustadora. Esse grande clássico do terror é um livro escrito por uma mulher, Mary Shelley, embora muitos não saibam.
A autora tinha apenas 16 anos quando lançou a obra e, como diversas escritoras da época (1818), publicar o seu trabalho não foi tão simples assim.
Como já explicamos, o enredo é sobre o estudante Frankestein, que faz um experimento de sucesso: dá vida a um monstro. Assustado com o que criou, ele resolve abandonar a criatura e, esta, acaba por tornar-se rancorosa e vingativa, causando mal a diversas pessoas.
Apesar de toda a trama de horror, o livro traz uma reflexão bastante interessante. Afinal, monstro é o que cria e abandona ou quem é transformado pelas consequências desse abandono?
Apesar dos desafios de publicar Frankenstein, Mary Shelley tornou-se uma autora importantíssima na história. Imagem: reprodução/Amazon
7. As alegrias da maternidade (Buchi Emecheta)
A nossa sétima dica de livro é uma obra da autora nigeriana Buchi Emecheta e relata a trajetória de Nnu Ego, uma mulher que cresceu em uma sociedade totalmente patriarcal que ensinava que só se é uma “mulher completa” quando se torna mãe.
Após ser devolvida de um casamento por não gerar filhos e ser entregue para outro, a personagem finalmente engravida e, entretanto, descobre que ser mãe não é uma tarefa tão fácil.
“As alegrias da maternidade”, apesar do nome, mostra as dificuldades da vida de uma mulher que, desde sempre, precisou trabalhar excessivamente, criou os filhos praticamente sozinha, não realizou sonhos e não vivenciou o amor dentro de um relacionamento.
“As alegrias da maternidade” nos faz viajar para outras realidades. Imagem: reprodução/Amazon
8. Suíte Tóquio (Giovana Madalosso)
De um lado Fernanda, uma mulher rica, com um cargo alto dentro de uma emissora de televisão, mãe e esposa. De outro, Maju, babá há 30 anos, funcionária da Fernanda. “Suíte Tóquio” é um livro de opostos e de duas classes sociais distintas, mas que partilham sentimentos em comum — a busca por algo que faz falta.
A trama começa com Maju raptando Cora, a filha de Fernanda. A pequena não recebe atenção suficiente dos pais, porque a mãe está muito ocupada com o trabalho, ao mesmo tempo em que vive uma paixão por outra mulher; o pai, Cacá, não costuma estar atento e apenas delega tarefas em relação à filha.
“Suíte Tóquio” foi escrito pela autora brasileira Giovana Madalosso e nos envolve com o lado humano de ambas as personagens.
Cada capítulo de “Suíte Tóquio” é escrito a partir de diferentes personagens. Imagem: reprodução/Amazon
9. Memórias da plantação (Grada Kilomba)
Mais uma dica de livros que abordam o racismo, “Memórias da plantação” reúne uma série de pequenas histórias sob uma perspectiva psicanalítica. Essas tramas discutem a ocupação de espaços, exclusão, corpo e cabelo, insultos etc.
A obra busca desmontar a normalidade com que o racismo muitas vezes é olhado, ao mesmo tempo que mostra a dor de não ser tratado como pessoa. Apesar de ter uma narrativa poética, o livro já é considerado crucial para o discurso acadêmico internacional.
“Memórias da plantação” é considerada uma obra multidisciplinar e reúne teoria pós-colonial, psicanálise, estudos de gêneros e outros.
Gênero híbrido, “Memórias da plantação” denuncia o racismo por um olhar da psicanálise. Imagem: reprodução/Amazon
10. A ridícula ideia de nunca mais te ver (Rosa Montero)
Falar de morte é um assunto bastante delicado, aliás, quem nunca se sentiu mal só de pensar em perder um ente querido? Ao mesmo tempo, o tema é necessário, especialmente para encontrarmos formas de lidar com o luto e de ressignificá-lo.
Rosa Montero, a autora da obra, leu o diário da cientista Marie Curie, que trazia relatos sobre a dor de perder o parceiro. A escritora sentiu que essa narrativa conectava-se com a dela, afinal, ela também sofria o luto pelo seu marido, que faleceu de câncer e com quem passou 21 anos.
Com muita delicadeza, “A ridícula ideia de nunca mais te ver” aborda o luto, mas, acima de tudo, nos faz pensar sobre os laços que criamos ao longo da vida e como eles nos unem.
Em “A ridícula ideia de nunca mais te ver”, Rosa Montero conecta-se com a história e o luto de Marie Curie. Imagem: reprodução/Amazon
11. Emma (Jane Austen)
Uma das obras mais famosas da escrita britânica, “Emma” é referência de alguns filmes, como “Patricinhas de Beverly Hills” e a longa homônima.
Se você já assistiu alguma das ficções, sabe que Emma é uma menina de família rica e um tanto quanto esnobe, apesar de no fundo ter as melhores intenções e fazer de tudo para proporcionar alegria para outras pessoas — aliás, é por isso que ela adora unir casais.
Ao contrário das outras mulheres da época, Emma foge da ideia de matrimônio mas, como um bom romance, ela encontrará o par ideal.
Como grande parte dos livros de Jane Austen, este também vem carregado de ironias e críticas à sociedade da época (século 19), sempre sem abrir mão do humor.
Se você tem curiosidade de conhecer essa grande romancista, vale a pena apostar em “Emma” como primeira leitura.
Divertido, “Emma” é uma leitura leve mas que não abre mão de críticas. Imagem: reprodução/Amazon
12. Cai o pano (Agatha Christie)
Conhecida como a rainha do crime, Agatha Christie é a autora certa para quem adora mistérios, aventuras e investigações. “Cai o pano” foi uma das últimas obras da escritora e, ao mesmo tempo, um adeus ao famoso personagem Hercule Poirot, o detetive.
Neste livro, Poirot retorna à casa do seu primeiro caso, a mansão Styles que, agora, passa a ser uma hospedaria. Como o bom detetive que é, o personagem principal rapidamente sentiu que entre os hóspedes havia um assassino e, como nos velhos tempos, ele começa a investigar para impedir que qualquer crime possa acontecer.
Como não somos fãs de spoilers, não vamos deixar mais nenhuma informação por aqui, mas prometemos que o final é uma grande reviravolta e que vai te deixar de boca aberta!
“Cai o pano” é considerado um dos melhores livros da autora. Imagem: reprodução/Amazon
13. Atos humanos (Han Kang)
A nossa última dica de livro escrito por mulher é da autora sul-coreana Han Kang, que cria uma narrativa a partir do massacre de Gwangju, acontecimento verídico que ocorreu no país natal de Kang, na década de 1980. Estima-se que cerca de 600 pessoas morreram.
A narrativa acontece a partir do massacre, que ocorreu entre os dias 18 e 27 de maio, quando civis pegaram armas e tomaram o controle da cidade de Gwangju, que vivia sob regime de ditadura. Entretanto, o movimento foi contido de forma brutal pelo exército sul-coreano.
Em “Atos humanos”, a autora cria uma história apoiada em diferentes personagens que convivem com a culpa de terem sobrevivido, o luto e a revolta.
A escrita, apesar de narrar detalhadamente a brutalidade do acontecimento e das mortes, ainda assim, é poética.
“Atos humanos”, além de trazer o luto, nos faz refletir sobre relações de poder, sociedade, censura e perseguição.
A autora coreana inspirou-se no massacre Gwangju Imagem: reprodução/Amazon
Dores, alegrias, reflexões… Os livros escritos por mulheres trazem narrativas importantes e que, com certeza, terão o poder de transformar o seu jeito de olhar o mundo — assim como toda boa literatura.
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